terça-feira, 19 de maio de 2009

Tênis: Função Positiva das Alavancas Motoras


Aírton Leite Bastos
União da Vitória – Pr – Brasil
cabobasto@yahoo.com.br


Resumo

Ao buscar um melhor aproveitamento esportivo para jogadores de tênis iniciantes, surgiu a idéia de aproveitar a ação em seqüência proporcionada pela utilização do conjunto de alavancas biomecânicas motoras que compõe o corpo humano. Colhendo informações bibliográficas percebe-se que o assunto, apesar de ter uma grande relevância na melhora do desempenho atlético, é pouco explorado e com pouca bibliografia tanto geral quanto específica. Contudo, é notório que a melhor aplicação das alavancas na ação em seqüência acrescenta um ganho em qualidade de potência aos golpes no tênis. Desta forma foi então desenvolvido um trabalho de pesquisa e aplicação para um grupo de jogadores de tênis, através de pesquisa bibliográfica, aplicação do trabalho de verificação de resultados para se chegar ao uma conclusão científica do que era empiricamente mensurável.

Palavras Chave: ação em seqüência – momento de força – arranjo de ossos e músculos

1 Introdução

Ao buscar uma colocação de destaque na competição de tênis escolar anual em Santa Catarina, um estado com um elevado nível de qualidade nesta modalidade, sentiu-se a necessidade de utilizar ferramentas de treinamento desportivo que dessem um ganho na qualidade dos atletas, e fizesse alguma diferença na competição. O simples trocar bolas de fundo, subir a rede, ou ainda alguns treinamentos comuns a todos não trariam os resultados esperados, pois feita uma análise os treinamentos eram todos iguais, o que daria um crescimento igual a todos, deixando aqueles que estavam na frente em ganho atlético se mantivessem sempre na frente.
Observando os jogadores de tênis em todos em todos os níveis, ficaram perceptíveis que aqueles com maior qualidade de técnica e de potência eram aqueles que naturalmente utilizavam uma melhor postura corporal, aproveitando o seqüencial de alavancas biomotoras que existem no corpo humano para em uma ação em seqüência dar aos seus golpes maior nível de potencia e melhor nível de precisão.
Esta postura ficava cada vez mais clara conforme o estudo ia se aprofundando e percebia-se que além da utilização da ação conjunta de alavancas, utilizava-se também um melhor aproveitamento angular na busca da melhor musculatura capaz de efetuar o golpe. Esse arranjo de ossos e músculos dava aos atletas, que deles se apropriaram, um diferencial de qualidade e de resultados no final da competição.
Portanto, tendo esta certeza empírica, houve a necessidade do estudo detalhado da situação, da aplicação prática nos jogadores, desenvolvimento dentro de uma planificação específica e da coleta e analise dos resultados para que houvesse então uma comprovação positiva cientificamente elaborada.
Chama a atenção, a pouca bibliografia de um assunto que tem uma grande relevância na possibilidade de ganho na produção de resultados positivos. Deu-se a impressão que o assunto não está sendo levado em conta, por profissionais da área do treinamento desportivo, ou por não entenderem a necessidade de tal ação, ou por desconhecerem o nível na melhora da qualificação em seus jogadores com a correta utilização das alavancas motora existentes no corpo humano, não apenas no tênis mas também em todos os esportes.

2 Referencial Teórico

Ao analisar o corpo humano em movimento pode-se perceber que o mesmo não é um corpo rígido que se desloca no espaço, mas sim um corpo flexível que desenha movimentos graciosos. Esta situação é inerente ao sistema de articulações que deixam leve e suave o se deslocar humano contribuindo não só à plasticidade do movimento como também a minimização do gasto em energia.
O que proporciona todo esse conjunto é o sistema de alavancas existentes no corpo humano que, como enfatiza Bôer (1973, p.59) “O corpo humano, quase sem exceção, é um sistema de alavancas de terceiro grau”. Essas alavancas são formadas pala inserção muscular no osso, nas proximidades articulares, e que determinam o funcionamento correto do sistema biomotor. Esse sistema é acionado através do estímulo muscular movimentando os ossos, que apoiados nas articulações determinam a força e a velocidade do movimento. Por serem as alavancas humanas de terceiro grau e estando os grupos musculares inseridos na parte proximal das articulações, deixam o braço de força menor que o braço de resistência determinando desta forma que as alavancas biomotoras humanas são mais eficientes para a velocidade que para a força. “[...] alavancas ósseas tem um braço de força menor que o braço de resistência, o corpo humano é [...] melhor equipado para executar movimentos rápidos que potentes”. (Hay, 1981, p. 109).
Entretanto, as alavancas humanas são harmoniosamente constituídas e ordenadas para dar ao ser humano um ganho em força e em velocidade, fazendo assim com que este supere os limites naturais do próprio corpo. Esse conjunto perfeito de alavancas agindo em conjunto umas com as outras, fazendo determinados arranjos para utilizar grupos musculares que possam ser otimizados, irá provocar uma ação em seqüência que dará ao executante do movimento um ganho real tanto em velocidade quanto em potência.
Portanto para executar trabalhos mecânicos, que de acordo com Hamil e Knutzen, (1999. p. 416) [...] é igual ao produto da magnitude de uma força aplicada a um objeto, e a distância que o objeto se move [...]” é necessário saber qual a capacidade do músculo em gerar esta força. Os músculos tem uma capacidade de gerar força de tração apenas em sentido unidirecional em virtude das articulações humanas serem do tipo dobradiça, com pouca mobilidade para movimentos laterais, o que indica que a força muscular agindo através de uma articulação, é uma força total de músculos individuais, com vários músculos agindo através de uma única articulação. Nesta situação ainda se percebe que como enfatiza Wilmore e Costill, (1994), a capacidade dos músculos em gerar força de tração varia ao longo da amplitude do movimento. Isso demonstra que o ser humano se utiliza de um conjunto de músculos e ossos para desenvolver momentos de força, que são conhecido como torque. “Quando uma força é aplicada de modo que cause uma rotação, o produto daquela força e a distancia perpendicular à sua linha de ação é denominada torque ou momento de força” (Hamil e Knutzen, 1999, p. 429). Para que momentos de força sejam produzidos, são necessário uma haste rígida e um ponto fixo de apoio que cause uma rotação. No corpo humano as articulações proporcionam esta situação, podendo portanto ser aplicados momentos de força no trabalho mecânico desenvolvido pelo ser humano. Ainda de acordo com Hamil e Knutzen, (1999) a força é produto da aceleração vezes a massa, ou seja, para termos um ganho de força expressivo deve-se aumentar a massa muscular que aliada a velocidade de movimento produzirá um ganho de força.
Quando se fala em desempenho atlético esportivo é necessário entender que o arranjo de ossos e músculos poderá contribuir cada vez mais na melhoria dos resultados através do sistema integrado de alavancas biomotoras, pois como enfatiza Hay, (1981) o sistema de alavancas no corpo humano serve para aumentar a capacidade de desempenho atlético.
Foss e Keteyian (1998) através de estudos perceberam que o sistema mecânico humano necessita da presença conjunta de ossos e músculos para desempenharem trabalho mecânico, pois “É o arranjo de ossos e músculos juntos que determina o efeito final” Foss e Keteyian (1998, p. 308). Desta forma precisam-se colocar tudo em perfeita harmonia para conseguirmos um aumento real no trabalho mecânico desejado.
Ao realizar um movimento mecânico utilizando o arranjo de ossos e músculos estes não conseguem realizar a mesma força de tração ao longo de toda a amplitude do seu movimento. Existem durante a execução de um movimento, ângulos mais favoráveis enquanto outras não produzem o trabalho desejado. Quando um músculo age sozinho, sua capacidade de gerar força de tração é limitada pelo grau de atuação que consegue esta maior tensão. No entanto, quando as alavancas biomotoras são acionadas conjuntamente estas deflagram uma “ação em seqüência”, criando variações de amplitude nos graus, e transferindo a capacidade de tensão de alavanca para alavanca, utilizando a melhor capacidade de tensão de cada grupo muscular e em seu ângulo de melhor capacidade de atuação. O resultado é a somatória das forças em conjunto que irá aumentar o torque final do movimento.
Contudo um aumento considerável no ganho de força só é possível por curtos períodos de tempo, esta capacidade conhecida como potencia muscular é explicada por Hamil e Knutzen, (1999) como mudança no trabalho e no tempo, definida como produto do momento muscular total e a velocidade angular articular. Então o agente de força das alavancas biomotoras são os grupos musculares atuantes no segmento a ser utilizado através de uma única articulação. O que irá determinar a qualidade do efeito final no ganho de força será um encaixe perfeito de músculos mais apropriados para aquele tipo de trabalho, dentro a velocidade angular, criando uma ação em seqüência, proporcionando então um momento de força otimizado através das alavancas biomotoras existentes.


2.1 A Aplicabilidade das alavancas


Conforme identificado anteriormente, o músculo tem capacidade de gerar apenas força unidirecional, portanto para obtemos um aumento no desempenho de qualidade do exercício, necessita-se conhecer e aplicar corretamente o sistema de alavancas que irá atuar no segmento utilizado, para formar uma ação em seqüência. Também se; como afirmam Hamil e Knutzen, (1999) o resultado do trabalho mecânico é o produto da magnitude de uma força aplicada, e a distância que o objeto se move, percebe-se que quanto mais potente o músculo aplicado no exercício que irá realizar o trabalho, maior a magnitude da força aplicada no esforço com melhor qualidade no desempenho.
O movimento deve ser orientado na alavanca que utilize o músculo com maior poder de torque, evidenciando que a aplicação de forma equivocada em um conjunto de alavancas irá utilizar um músculo com menor capacidade de gerar força de tração diminuindo assim a potencia no golpe, cansando mais rapidamente, aumentando o risco de lesões e diminuindo a qualidade e desempenho do golpe aplicado.
Um bom movimento no tênis golpeando com uma aplicação correta no arranjo de ossos e músculos seria o golpe de direita (forehand) aplicado com o braço (úmero) em um ângulo de (+-) 45° em relação ao tronco, o antebraço (rádio e ulna) em um ângulo de (+-) 90° em relação ao braço, o punho formar um ângulo de (+-) 30° em relação ao antebraço, e todo esse conjunto formar um ângulo de (+-) 200° em relação ao tronco. Este conjunto angular irá utilizar alavancas reunidas de ombro, de cotovelo e de punho, gerando assim uma ação em seqüência, tendo como alavanca principal no torque final a alavanca de cotovelo na articulação radio ulnar, a qual irá recrutar músculos como bíceps e tríceps braquial, braquial e braquiorradial para motor de ação final. Entretanto para se chegar a potência máxima no torque final, deverá ter sido observado todo o conjunto do corpo, partindo da posição de pernas, a rotação do tronco como ação primária e a alavanca de ombro como apoio e transferência de ação em seqüência e a alavanca de punho na aceleração final, pois como enfatizam Wilmore e Costill (2001, p. 101) “A capacidade de um músculo ou de um grupo muscular gerar força varia ao longo da amplitude total do movimento”.
Desta forma deduz-se que o conhecimento da perfeita sincronia das alavancas biomotoras ao longo do movimento irá determinar uma melhor qualificação no desempenho atlético servindo como referencial de qualificação esportiva de resultados.


3 Desenvolvimento Metodológico

Para analisar a consistência do resultado positivo na aplicação das corretas posturas na utilização das alavancas biomotoras, acionando os arranjos de ossos e músculos mais indicados para a prática da atividade, foi estabelecido um teste entre dez pessoas que participaram de uma bateria de exercícios durante seis meses e em um grupo de dez pessoas da mesma faixa etária que não participaram da bateria de exercícios para fazer uma avaliação da diferença.

3.1 Instrumentação
Foi utilizada durante um período de seis meses uma bateria de exercícios com o objetivo de corrigir a postura de alavancas, e mensurar no final a evolução da qualidade técnica individual proporcionada, através de teste de potência.

Primeiro exercício: objetivo do movimento: aumentar a potência no golpe sem perder o controle.
Alavancas utilizadas:
Alavanca de braço; com o braço (úmero) formar um ângulo de (+-) 45° em relação ao tronco, o antebraço (rádio e ulna) em um ângulo de (+-) 90° em relação ao braço, o punho formar um ângulo de (+-) 30° em relação ao antebraço, e todo esse conjunto formarem um ângulo de (+-) 200° em relação ao tronco. Esse conjunto irá utilizar alavancas de punho, cotovelo e ombro.
A musculatura utilizada ao longo do movimento, no arranjo final de ossos e músculos será; como ação motora principal, o bíceps e tríceps do braço, coracobraquial, braquial e braquiorradial do antebraço. Como músculos de ação primária serão utilizados o deltóide, peitoral maior, peitoral menor, redondo maior e trapézio, e como músculos de apoio e arranque do movimento, o supra espinhal, subescapular, oblíquo interno e externo, reto e transverso do abdômen.
Alavanca de pernas; a perna assimétrica levemente flexionada, a perna simétrica projetada para trás, paralelamente e em um ângulo de (+-) 200° em relação ao eixo do tronco. Ao golpear a bola estender a perna assimétrica e flexionar levemente a perna simétrica. Este movimento sincronizado com as alavancas de braço irá proporcionar um ganho na potência final do movimento, mantendo o controle de qualidade tanto na paralela quanto na cruzada.
O movimento considerando atleta destro; na aproximação da bola, segurar com a mão esquerda a cabeça da raquete, rodar o corpo para trás utilizando-se de força angular. Ao golpear a bola, soltar a mão esquerda da raquete e projetá-la a frente iniciando o movimento de rotação do tronco utilizando inicialmente a força dos músculos abdominais, obliquo interno e externo, reto e transverso como motor de arranque para um ganho maior no torque final aproveitando a força angular. Em seguida deflagrar o movimento de “ação em seqüência” das alavancas descritas anteriormente, iniciando pela alavanca escapulo - umeral e terminando na alavanca rádio-cárpica, dando aceleração final de punho.


3.2 Teste de Potência
O atleta, colocado em um espaço aberto, golpeia parado em forehand a bola, para que esta alcance a maior distância possível. O resultado colhido foi o melhor de três tentativas.

Variáveis para o teste de potência
Nº de alunos: 20. 10 no grupo aplicação e 10 no grupo controle
Idade entre: 12 e 15 anos
Velocidade do vento: insignificante
Posição do sol: lateral
Nível de ruído: mínimo
Nº de bolas utilizadas: três
Qualidade das bolas: novas




4 Conclusão e recomendações

Ao terminar a analise dos testes, ficou comprovado aquilo que já se havia percebido empiricamente através de observação de jogadores de tênis. Este trabalho faz parte de uma monografia apresentado ao curso de Pós graduação em Motricidade Desportiva e Escolar da UnC na cidade de Mafra – SC.
A escolha por fazer a analise e o estudo em jogadores de tênis foi em virtude de maior facilidade naquele momento de minha carreira, no entanto a aplicabilidade das alavancas biomotoras poderá dar ganho de potencia e melhora na qualidade final do desempenho atlético em qualquer modalidade esportiva.
Depois de terminado este trabalho, passei a observar a melhor aplicação corpórea cinestésica dentro do aproveitamento das alavancas biomotoras no futsal e percebi também grande melhora nas posturas de passe e arremate, contudo sem tem ainda um teste real que comprove esta situação.
Apesar de não ter desenvolvido um teste especifico para o futsal recomendo a observação da perfeita composição de alavancas organizando o arranjo de ossos e músculos nos atletas para a melhora da performance atlética.


5 Bibliografia

Broer, Marion R. Introdução à cinesiologia – Rio de Janeiro. Fórum, 1973

Fleck, S. Adaptação do Sistema Nervoso à Resistência do Treinamento. http://orbita.starmedia.com/~efba/.2003

Foss, M. L. e Keteyian, S.J. Bases fisiológicas do Exercício e do Esporte; Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2000

Gray, Henry; Anatomia; Rio de Janeiro. C.M. Gross 1988

Hay, James G. Biomecânica das Técnicas Desportivas. Rio de Janeiro; Interamericana, 1981

Hamil, J. e Knutzen, K. M. Bases Biomecânicas do Movimento Humano, São Paulo Manole. 1999

Matheus, D. K. e Fox, E. L. Bases Fisiológicas da Educação Física e do Desporto; Rio de Janeiro Interamericana 1893

Wilmore, J. H. e Costill, D. L, Fisiologia do Esporte e do Exercício; São Paulo Manole. 2001

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